Há pessoas realmente cruéis e que não têm o mínimo de sensibilidade para tratar de um qualquer tipo de ser vivo seja ele racional ou não.
Chamo-me Bernardo e tenho dois anos e meio. Há cerca de 4 meses fui adoptado (sem muita vontade, diga-se de passagem) por uma desterrada de Portugal que me arrancou de uma prateleira de um estabelecimento comercial cujo nome não posso dizer mas que começa por M, acaba em T e tem axMa pelo meio.
À primeira vista a minha mãe adoptiva parecia simpática e cuidadosa.
Sentia-me feliz e excitado pelo facto de ir para um novo lar, uma nova vida, uma nova mãe, jovem e bonita ainda por cima. Poderia dizer a todos os meus colegas do centro de Bonsai de Campolide que tinha a vida ideal e que melhor do que era a minha vida não podia haver… até o meu amigo que vive com o Mr. Myaki do Karate Kid tinha inveja de mim.
O primeiro mês foi fantástico. Todos os dias bebia aguinha, chegou-me até a dar adubo. Quando chegava a casa fatigada do longo dia de trabalho tinha sempre uma palavra amiga e punha música para eu dançar. Durante a semana punha musica Pop, ao fim de semana era mais Fado e Jazz. Tinha o cuidado de cuidar da minha pele, não me expondo ao sol mais do que as 4 horas diárias recomendadas. Vinha de propósito almoçar a casa apenas para me deslocar da varanda para a sala ou vice-versa. Em dias de chuva tinha o cuidado de me por num sítio estratégico para que, quando raiassem alguns raios de sol eu me conseguisse expor a eles. Deu-me um nome, um lar… uma vida feliz e saudável. Arrancou-me das ruas para que não seguisse as pisadas cruéis da vida e não acabasse num contentor de verdes qualquer.
O segundo mês notou-se algum desleixo da parte da minha mamã. A paciência á não era a mesma. Talvez por ter de me partilhar com o enteado cato que para lá andava… Aguinha só de três em três dias, adubo nem vê-lo, sol… só quando tinha a sorte dela me esquecer no chão porque tinha estado a fazer limpezas.
E eis que houve uma mudança. Não só de residência mas de atitude.
Na nova casa o meu quarto era na mesa da televisão. A partir da uma e até ao pôr-do-sol levava com o calor e os raios ultra-violeta. Será que ela nunca ouviu falar do Cancro da Pele… no meu caso, da folha??? Quando reparou que estava a ficar com a folha mais ou menos como o pescoço da Lili Caneças levou-me para a cozinha… sítio escuro aquele!!! E ainda por cima pôs-me ao lado do horrível cacto de caule seca. Que suplício.
Água então… uma vez por semana… e quando era!!!
Enfim comecei a sentir-me debilitado e sem forças para continuar. Cheguei mesmo a pôr uma raiz de fora da terra para pôr termo à vida… Mas tudo corria mal! Por mais que quisesse desistir mais parecia que tudo estava contra mim. Nem partir para um mundo melhor me deixavam.
Até que m dia, já sem forças sequer para retirar a outra raiz da terra, uma luzinha ao fundo do túnel apareceu. Ouvi os passos dela a correrem da sala até mim. Chegada ao meu lado prostrou-se à minha frente e eis que disse: “ A cabra da árvore está a morrer… nunca mais me lembrei disto!!! Vou pô-la na varanda…”
Eu só queria um pouco de amor e carinho e quando se está doente e fraco, tudo nos parece o bom e doce rebuçadinho. Achei que ali ia começar uma vida nova, de luta é certo, mas nova.
Como me enganei…
Levou-me para a varanda.
Passou um dia, dois, três… Ouvia-a a chegar e gritava com a pouca voz que tinha. Mas era em vão. Quatro, cinco… E chegou o fim-de-semana. Pensei: “Ela agora tem mais tempo, vai com toda a certeza lembrar-se de mim e dar-me água e menos sol!”. Não! Chegava às 8 da manhã, saia às 4 da tarde, voltava para jantar e de novo saia para repetir o ciclo. Não me deu um pouco de atenção de carinho… nada! Aguinha… só a da chuva. Ainda me lembro de lamber a tijoleira da varanda para conseguir uma gotinha de água misturada com terra. O meu único divertimento era ouvir os trolhas da obra em frente… Coisas lindas que eles diziam… “Oh flor dá para pôr?” Esta foi a que me ficou mais na memória.
Passou-se mais uma semana e nada. Já em estado de coma ouvi-a comentar que ia de casamento para “Lesboa”. Já estava por tudo. Só queria que acabasse ali esta minha passagem pelo mundo dos humanos que se dizem racionais.
Não sei ao certo quanto tempo passei naquela varanda porque deixei de ter forças para riscar na parede pauzinhos com os dias que passei ali. Mas 3 semanas foram com toda a certeza.
E eis que há um dia que ela voltou e pegou em mim fazendo o ar mais perplexo do mundo! Hipócrita… depois de me deixar ali 1/12 avos do ano queria que eu estivesse de boa saúde.
Agora toda a atenção é para mim… talvez porque o outro marroquino que pica se tenha ido embora…
Mas agora é tarde! Agora sou eu que não quero.
Todos os dias ela luta para que eu sobreviva e todos os dias eu faço o contrário.
Este texto é para ti, Raiz, que pensas um dia vir a ser um Bonsai… Não o faças!!! Vê o meu exemplo. Se te tornares numa árvore a sério ninguém se esquecerá de ti em cima de uma mesa de cozinha!!! Serás demasiado grande para isso, forte, invencível! E ainda terás a sorte de um dia puderes vir a ser 20 folhas do diário da tua mãe adoptiva… e saberás todos os seus segredos, os menos e os mais íntimos.
Vê o meu exemplo! Vê como eu era… e como sou!
Chamo-me Bernardo e tenho dois anos e meio. Há cerca de 4 meses fui adoptado (sem muita vontade, diga-se de passagem) por uma desterrada de Portugal que me arrancou de uma prateleira de um estabelecimento comercial cujo nome não posso dizer mas que começa por M, acaba em T e tem axMa pelo meio.
À primeira vista a minha mãe adoptiva parecia simpática e cuidadosa.
Sentia-me feliz e excitado pelo facto de ir para um novo lar, uma nova vida, uma nova mãe, jovem e bonita ainda por cima. Poderia dizer a todos os meus colegas do centro de Bonsai de Campolide que tinha a vida ideal e que melhor do que era a minha vida não podia haver… até o meu amigo que vive com o Mr. Myaki do Karate Kid tinha inveja de mim.
O primeiro mês foi fantástico. Todos os dias bebia aguinha, chegou-me até a dar adubo. Quando chegava a casa fatigada do longo dia de trabalho tinha sempre uma palavra amiga e punha música para eu dançar. Durante a semana punha musica Pop, ao fim de semana era mais Fado e Jazz. Tinha o cuidado de cuidar da minha pele, não me expondo ao sol mais do que as 4 horas diárias recomendadas. Vinha de propósito almoçar a casa apenas para me deslocar da varanda para a sala ou vice-versa. Em dias de chuva tinha o cuidado de me por num sítio estratégico para que, quando raiassem alguns raios de sol eu me conseguisse expor a eles. Deu-me um nome, um lar… uma vida feliz e saudável. Arrancou-me das ruas para que não seguisse as pisadas cruéis da vida e não acabasse num contentor de verdes qualquer.
O segundo mês notou-se algum desleixo da parte da minha mamã. A paciência á não era a mesma. Talvez por ter de me partilhar com o enteado cato que para lá andava… Aguinha só de três em três dias, adubo nem vê-lo, sol… só quando tinha a sorte dela me esquecer no chão porque tinha estado a fazer limpezas.
E eis que houve uma mudança. Não só de residência mas de atitude.
Na nova casa o meu quarto era na mesa da televisão. A partir da uma e até ao pôr-do-sol levava com o calor e os raios ultra-violeta. Será que ela nunca ouviu falar do Cancro da Pele… no meu caso, da folha??? Quando reparou que estava a ficar com a folha mais ou menos como o pescoço da Lili Caneças levou-me para a cozinha… sítio escuro aquele!!! E ainda por cima pôs-me ao lado do horrível cacto de caule seca. Que suplício.
Água então… uma vez por semana… e quando era!!!
Enfim comecei a sentir-me debilitado e sem forças para continuar. Cheguei mesmo a pôr uma raiz de fora da terra para pôr termo à vida… Mas tudo corria mal! Por mais que quisesse desistir mais parecia que tudo estava contra mim. Nem partir para um mundo melhor me deixavam.
Até que m dia, já sem forças sequer para retirar a outra raiz da terra, uma luzinha ao fundo do túnel apareceu. Ouvi os passos dela a correrem da sala até mim. Chegada ao meu lado prostrou-se à minha frente e eis que disse: “ A cabra da árvore está a morrer… nunca mais me lembrei disto!!! Vou pô-la na varanda…”
Eu só queria um pouco de amor e carinho e quando se está doente e fraco, tudo nos parece o bom e doce rebuçadinho. Achei que ali ia começar uma vida nova, de luta é certo, mas nova.
Como me enganei…
Levou-me para a varanda.
Passou um dia, dois, três… Ouvia-a a chegar e gritava com a pouca voz que tinha. Mas era em vão. Quatro, cinco… E chegou o fim-de-semana. Pensei: “Ela agora tem mais tempo, vai com toda a certeza lembrar-se de mim e dar-me água e menos sol!”. Não! Chegava às 8 da manhã, saia às 4 da tarde, voltava para jantar e de novo saia para repetir o ciclo. Não me deu um pouco de atenção de carinho… nada! Aguinha… só a da chuva. Ainda me lembro de lamber a tijoleira da varanda para conseguir uma gotinha de água misturada com terra. O meu único divertimento era ouvir os trolhas da obra em frente… Coisas lindas que eles diziam… “Oh flor dá para pôr?” Esta foi a que me ficou mais na memória.
Passou-se mais uma semana e nada. Já em estado de coma ouvi-a comentar que ia de casamento para “Lesboa”. Já estava por tudo. Só queria que acabasse ali esta minha passagem pelo mundo dos humanos que se dizem racionais.
Não sei ao certo quanto tempo passei naquela varanda porque deixei de ter forças para riscar na parede pauzinhos com os dias que passei ali. Mas 3 semanas foram com toda a certeza.
E eis que há um dia que ela voltou e pegou em mim fazendo o ar mais perplexo do mundo! Hipócrita… depois de me deixar ali 1/12 avos do ano queria que eu estivesse de boa saúde.
Agora toda a atenção é para mim… talvez porque o outro marroquino que pica se tenha ido embora…
Mas agora é tarde! Agora sou eu que não quero.
Todos os dias ela luta para que eu sobreviva e todos os dias eu faço o contrário.
Este texto é para ti, Raiz, que pensas um dia vir a ser um Bonsai… Não o faças!!! Vê o meu exemplo. Se te tornares numa árvore a sério ninguém se esquecerá de ti em cima de uma mesa de cozinha!!! Serás demasiado grande para isso, forte, invencível! E ainda terás a sorte de um dia puderes vir a ser 20 folhas do diário da tua mãe adoptiva… e saberás todos os seus segredos, os menos e os mais íntimos.
Vê o meu exemplo! Vê como eu era… e como sou!
5 comentários:
Força Bernardo!
Isso com muito amor, carinho, e água vai lá!!!
Gaija, fico contente por ver que tiveste tempo para vir escrever mais coisinhas! Agora tens de te organizar para teres também algum tempo para o coitadinho do Bernardo...
Alguns conselhos via google:
Água e sol: Devem ser feitas a partir de uma observação da nossa planta.
Ela deverá fornecer os dados para que possamos regá-la.
Em princípio devemos manter a terra húmida, não encharcada . Caso a terra esteja bem preparada, com a quantidade adequada de areia, não há perigo de regá-la com constância pois nunca haverá excesso de água.
A quantidade de sol também vai depender da necessidade do tipo de planta.
Algumas querem muito sol, outras muita claridade e pouco sol... enfim....
Pragas e insectos: Vigiar a planta, verificar se surgiram bichinhos, pulgões, e outros inimigos do nosso bonsai. Caso surja isso, temos vários procedimentos possíveis sendo que o uso de insecticidas deve ocorrer de modo correto para evitar que se utilize produtos indevidos. O mais comum a se usar é a calda bordalesa, ou outros produtos semelhantes que se consegue em qualquer casa de produtos agropecuários. Nós usamos também o chá de fumo de rolo de fabricação caseira. Eventualmente fazemos uma mistura desses dois produtos e acrescentamos gotas de óleo mineral que age como fixador desses produtos na planta.
Finalmente,
Quando tudo vai mal com o bonsai. Que azar ! A coisa não vai bem. O seu bonsai vai mal, parece que está morrendo. O que fazer?
Uma coisa que tem se mostrado eficiente quando isso acontece é fazer um "regime" para a doente. Algo muito leve que não exija nenhum esforço dela. Trata-se do seguinte: Pegamos uma peneira e colocamos nela areia pura. Somente areia. Tiramos a planta adoentada e a "plantamos nessa areia". Colocamos esse bonsai doente na sombra, num lugar bem iluminado, aquecido( mas não no sol) e molhamos essa areia diariamente ou com menos frequência dependendo do clima. Aí é só aguardar. Parece milagre! A maioria absoluta das vezes há uma recuperação total. Mas é bom que se diga que não devemos esperar demais para usar este recurso que muitos bontaístas chamam de CTI pois se a planta passar do momento de ir para lá, não vai conseguir se salvar.
Espero que ajude :)
Beijinhos!
Pobre Bernardo... estória triste a dele... desejo-lhe as melhoras e que volte a ser verde, saudável e lindo como na primeira foto.
Depois do comentario da Patricia...n existe mt a acrescentar!!!
...as melhoras para o pequeno Bernardo...
Sempre podes procurar um centro de reabilitação de bonsais!!
Pode ser que exista...ou vens passar férias a casa da Tia...assim sempre mudavas de ares ;))
Se calhar é melhor n...acho q o meu sobrinho ainda te fazia alguma maldade!!! :)))
Beijos e melhoras!!
Brigada Pati pelas dicas!!! Acho que vou fazer isso da areia...
Por outro lado já pensei em plantá-lo em frente de minha casa... é que estão a fazer lá um jardim com muitas arvores e assim não tinha de me chatear.
C: Não penses que ele é a vítima... Eu fui praticamente obrigada a adoptá-lo!!!
Jo: troco o teu sobrinho pelo Bernardo!!!!
Beijos
"quando chegava a casa fatigada do longo dia de trabalho tinha sempre uma palavra amiga e punha música para eu dançar"
wtf?!
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